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Pequenos grandes nadas que me vao acontecendo...
Sujei a cozinha Cortei as maçãs, fiz um monte de cascas na bancada. Derreti a manteiga, juntei canela, açúcar e farinha. A casa está em silêncio. Estou sozinha. Choveu o dia todo. Acendi velas para vestir a casa de outono. Liguei a batedeira e misturei tudo. Vou acumulando loiça suja, há farinha que caiu no chão por descuido ou entusiasmo, e o cheiro a canela casa perfeitamente com o sabor da maçã. A cozinha suja testemunha o prazer que descobri na elaboração deste bolo. É mais uma forma de cuidar, de transbordar amor e poder materializá-lo usando farinha, manteiga e açucar. E forno, não esquecer o forno. Permite incubar os sabores que trazem conforto e paz. Sujei a cozinha e ficou tudo num reboliço. Olhei para trás quando terminei e fui assolada por uma sensação de conquista de um novo território. A cozinha suja ganha contornos de palco de teatro depois do fim do espetáculo, cheia de memórias que nos fizeram crescer a alma. O dia continuou chuvoso, acolho o sentimento de estar em mim e comigo, de saber da presença constante dos que amo, mas ter como tempo sagrado este em que me encontro sozinha. Sento-me no sofá e fico à espera que o bolo coza. Aconchego-me na ideia de que este momento é sagrado. Medito e reflito sobre a sorte que me acompanha. Estou rodeada pelo cheiro de maçã e canela que chega à sala, e pela perspetiva de ter encontrado mais um terreno seguro, a cozinha. Suja, claro. A felicidade tem esta característica enigmática, precisa que nos disponhamos a remexer nos ingredientes que queremos ver levedar. Precisa que sujemos a cozinha. É sinal de vida, sinal de amor. ❣️ Por. por. escrito
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