Todos nós procuramos abrigo. Todos nós procuramos conforto. Todos nós fugimos de alguma coisa. Da dor, da desilusão. Da vergonha. De um adeus. Das noites em claro. Da rotina. Da banalidade. Todos nós sentimos nós na garganta e precisamos de desapertar o coração. Desatar o que nos magoa. Precisamos de encontrar paz. Dentro ou fora de nós. Num livro. Num diário. Numa música. Numa fotografia. Numa memória. Numa praia. Todos nós precisamos de um refúgio. Pode ser um abraço. Um sorriso. Uma carta. Uma conversa. Todos nós estamos agrilhoados a algo que nos prende e de que nos queremos libertar. Somos prisioneiros do que nos magoa. Todos nós queremos um lugar seguro. Um coração onde possamos morar. Um olhar que entenda o nosso. Uma resposta. Todos nós somos refugiados do que nos fere.
Sempre fui de guardar tudo,,,seja objectos, papeis ja amarelecidos pelo tempo.. e escritos..ou meus ..ou que guardo como aqui !
Hoje sem saber e sem estar a procura deparo-me com esta reliquia..um diamante que nem sabia que tinha guardado..no meu pc!
Estas palavras foram-me oferecidas, por um amigo muito especial,,por quem tinha e tenho um carinho muito grande, mas que por força das circunstancias ou da vida nem sei bem dizer..nos perdemos um do outro!
Ha exatamente 8 anos que nao mais soube dele..
Hoje resgatei estas palavras e as memorias d´alguem que tanto me mimou e acarinhou numa fase tao delicada da minha vida!
Isto foi-me oferecido num postal de aniversario!
"Querida Maria
Não sei bem por onde começar, confesso-me nervoso nesta pintura que lhe quero ofertar, receio que a mão trema, receio que o traço me saia desalinhado ou que a cor não seja perfeita, encontro-me nesta ânsia de perfeição, porque para si escrevo.
Que dizer, que pintar, que traje deve vestir este meu quadro para lhe encaixar na perfeição...
A Maria não se pinta, não se descreve, sente-se … simplesmente se faz sentir… diria mesmo que o meu nervosismo, se deve amais que falta de minha habilidade,
digo com a certeza deuma verdade absoluta, que a minha incapacidade não é culpa minha… é sua Maria… a Maria tal como a poesia, é a forma mais cristalina de fazer expressar a alma, acho que não sabia disso, acho que ainda não olhou para si… sim… olhar mesmo, olhar como quem constrói um puzzle e procura as peças que encaixam na perfeição… eu abri … eu abro… cada janela de si e espreito… espanto-me com a menina que corre descalça ignorando a chuva e sorrindo com cada gota de água que lhe escorre pelo rosto.
Estou com aquela sensação de frustração, do pintor que quer rasgar a tela, do escritor que em frustração rasga a folha de papel, não sei bem o que dizer… quer dizer… eu sei o que quero dizer, mas como escrever o que a alma liberta?
Precisava aqui da menina que com um sorriso me daria confiança… ouço a menina dizer… “ as coisas pequenas “ …ah as coisas pequenas…o jeito gentil e delicado, a letra que assenta no papel que nem pó, docemente, delicadamente esculpida na folha de papel, o sorriso, o meio sorriso que não sai, que por vezes se recolhe e amordaça, que por vezes se escapa, que cativa, encanta, espanta, um pedaço mágico. As pequenas coisas, o brilho que emana dos seus olhos e que quem olhar bem, perceberá …que será eternamente menina que abraça com a força de um pequeno ursinho de peluche.
Parabéns Maria, sorria sempre porque omundo precisa do seu sorriso."