Algumas abrem as janelas e deixam-nos ver logo as pessoas que são. Deixam-se ver. Outras não, entreabrem-nas apenas e vão deixando espreitar.
Algumas fecham-se, outras não conseguem voltar a fechar-se. Sim, como casas. Nelas mora aquilo de que cuidam, aquilo que amam.
Nas casas das pessoas que amam a poesia, as cortinas balançam. E balançam mais quando estão fechadas e não entra vento, nem frio nem quente, nem brisa nem uivo.
Na casa das pessoas que amam poesia, as cortinas não precisam de vento para balouçar.
Tudo se move, tudo está em movimento, tudo se agita como as águas das cascatas, porque há uma nascente inicial que atravessa os tempos e dá de beber às almas sedentas de Vida, sem nunca lhes matar a sede.
Durante largas horas estive a ouvir os desabafos de alguém que me é muito querido.
Senti-lhe a dor em cada traço, cada suspiro e até em cada lágrima. Senti-lhe dor nas palavras, nos gestos.
Na alma. À dor outros se juntavam. A frustração. O desamparo. A angústia e a incerteza.
Enquanto absorvia as palavras que tão belamente alguém me estava a confiar, questionei-me do poder do outro em nós.
Por considerarmos que é o certo. Por acharmos que não podemos dizer que "não". Por pensarmos que dizer "não quero mais isto para mim" vai magoar, vai entristecer, vai trazer problemas. Por nos privarmos do que queremos em prol de um outro que se esquece tantas vezes de nós.
Por sermos leais. Leais aos valores de amizade, de respeito, de amor que nos foram transmitidos. Por nos ensinarem que bater o pé é de alguém rude.
Que dizer "adeus" a quem nunca nos disse "olá" é má educação.
Lealdade não é prisão.
Somos leais a valores. Somos leais a quem nos diz "voa". A quem nos quer bem. A quem tudo faz para nos ver felizes, mesmo que isso implique aceitar o que nunca lhe foi explicado.
Somos leais ao amor puro. Ao que liberta, nunca ao que nos impede de crescer. Somos leais à liberdade de ser, cair e aprender.
Somos leais a quem nos perdoa os erros, a quem connosco cresce. A quem nunca nos larga a mão.
Somos leais aos que dizem a verdade. Aos que batalham, aos que nos enfrentam com a intenção de nos fazer acordar.
Somos leais a quem quer estar connosco. A quem liga. A quem se preocupa. A quem quer genuinamente saber.
Voltei aos olhos perdidos que sofrem por quem nunca se preocupou.
Vi-nos presos em "sim's" contrariados.
Desejei que cada um de nós soubesse dizer, sem medos, sem hesitar:
"HOJE EU DIGO NÃO".
(FAR)
Ainda bem querida Amiga soubeste dizer NÃO! BASTA!